Como já mencionámos, a Sociedade Comercial C. Santos cedeu-nos um Mercedes-Benz eVito Tourer para testar durante alguns dias.
Esta cedência de duração prolongada, foi muito importante para poder ter uma visão mais clara e prática da utilização de um veículo a propulsão 100% eléctrica. Desta forma, tivemos a oportunidade de experimentar o eVito Tourer num verdadeiro ensaio intensivo e mais realístico possível: em diferentes tipos de percursos, modalidades de emprego, simulação de utilização lúdica e profissional, manobrabilidade, bem como nos consumos de energia e nos modos, processos, tempos e sistemas de carregamento da bateria.
A primeira impressão ao conduzir o eVito Tourer, a versão eléctrica do bem famoso Vito Tourer, foi simplesmente fantástica. Além dos tradicionais conforto e fiabilidade oferecidos pela versão a combustão interna, na versão eléctrica salientamos o elevado binário da tracção eléctrica sempre presente, desde o primeiro momento, além da agradável ausência do “ruído” do motor e silêncio que nos acompanhava durante todas as viagens, independentemente das condições.
Durante todo o nosso período de teste, viajámos quase sempre a plena carga, isto é:
- 5 pessoas com 5 malas, 4 das quais grandes — equivalente a cerca de 530 kg;
- 5 pessoas com 10 sacos de pellets de 15 kg cada para simular o peso das malas — equivalente a cerca de 540 kg;
- 2 pessoas — equivalente a cerca de 160 kg.
Utilização profissional
Para a aplicação profissional, simulámos a utilização do eVito Tourer como táxi e como shuttle do aeroporto do Porto para Aveiro e vice-versa.
Táxi
Simulámos o transporte de turistas no ambiente urbano do Porto e de Aveiro, como também de turistas que pretendiam deslocar-se de Aveiro para visitar a praia da Costa Nova e outras localidades limítrofes de interesse. Neste tipo de serviço estavam sempre 5 pessoas a bordo, incluindo o condutor.
Simulando o serviço de táxi, foi possível testar o eVito Tourer no constante pára-e-arranca com ritmos de velocidade muito variáveis, no meio do congestionamento do tráfego citadino de uma grande cidade bem como na circulação numa pequena cidade, e ainda em estradas municipais e nacionais.
As distintas morfologias das cidades de Aveiro e do Porto, a primeira completamente plana, a segunda com acentuadas subidas e descidas, obrigavam a efectuar tipos de condução com graus de dificuldade diferentes. Isto permitiu-nos avaliar o comportamento do eVito Tourer e a sua performance em percursos completamente distintos, seja na morfologia como também na qualidade do próprio piso das estradas.
O desconforto provocado pelas malformações da pavimentação, das via públicas urbanas, nomeadamente estradas em paralelos ou com asfalto danificado e mal consertado, devido a obras e intervenções mal executadas, era magistralmente anulado pela suspensão básica reforçada que equipa o eVito Tourer de série.
Mesmo as lombas, especialmente incomodativas para os passageiros sentados nos bancos traseiros, se tornavam quase imperceptíveis, anulando o típico irritante efeito “salto”.
Após ter ficado especialmente impressionado pela admirável prestação e conforto que esta suspensão básica reforçada me tinha proporcionado, fico a imaginar quanto especial seria ter o eVito Tourer equipado com a suspensão pneumática AIRMATIC, disponível opcionalmente.
Shuttle
Para ter uma imagem mais completa das verdadeiras qualidades do eVito Tourer, restava somente efectuar a simulação do serviço de hotel-shuttle.
Considerando que somos residentes em Aveiro e ficamos a cerca de 80 km do aeroporto do Porto, era interessante ver o desempenho do eVito Tourer neste tipo de serviço.
Contrariamente ao táxi, o hotel-shuttle tem deslocações mais regulares e programadas, factores importantíssimos, considerando que o percurso é principalmente autoestrada e as velocidades são mais elevadas, comparativamente ao serviço de táxi em âmbito urbano, o que corresponde a consumos mais elevados e consequentemente menos autonomia
Nesta simulação arrancámos vazios de Aveiro e fomos buscar uns familiares que chegavam de um voo intercontinental, um claro exemplo dos típicos turistas de longa duração e com muitas malas. Uma tarefa particularmente difícil para um táxi tradicional, devido ao grande volume necessário para as bagagens, mas que o eVito Tourer resolve perfeitamente e muito melhor, também a nível de espaço e conforto para os próprios passageiros.
O espaço e o conforto
O elevado nível de conforto, do eVito Tourer, era ainda mais enfatizado pelo potente motor eléctrico, com o seu elevado binário disponível desde o primeiro momento. Os arranques em subida aconteciam silenciosos, com suavidade, em total segurança e sem solavancos e desconforto para os ocupantes.
A suavidade da condução e do ambiente no interior do eVito Tourer, tornavam estas viagens extremamente agradáveis e ausentes de stress, seja para os passageiros, como também para o condutor. Neste caso sempre com 5 pessoas a bordo, incluindo o condutor.
A enorme bagageira com uma capacidade de cerca de 1.000 litros consentia o acondicionamento de 6 a 8 malas de grande dimensão (30 kg), típicas dos viajantes de longo curso, mais 6 a 8 pequenas malas.
É importante ter em conta que a tara do eVito Tourer é de pouco menos de 2.550 kg, incluindo o condutor (2.523 kg, valor indicado pela Mercedes-Benz Alemanha), e o peso bruto total permitido é de 3.500 kg, sendo assim, existe a possibilidade de ter cerca de 950 kg de peso útil. Se consideramos 8 passageiros de 75 kg cada (peso médio), temos 600 kg somente em passageiros, sendo assim, o peso útil que sobra para as bagagens é cerca de 350 kg — estes valores do peso são meramente indicativos, considerando que nesta categoria de passageiros há muitos homens que pesam acima dos 90 kg (como eu) e mulheres que pesam cerca de 70 kg.
Outro aspecto interessante e útil é a configuração flexível dos bancos, os quais podem ser ajustados e eventualmente retirados, em função da necessidade.
Manobrabilidade
Não obstante o peso e as respeitáveis dimensões, o eVito Tourer é extremamente fácil de manobrar. A direcção é muito leve e com uma óptima brecagem, típica da Mercedes-Benz.
Além dos bons espelhos retrovisores externos, no display central, graças à câmara colocada na traseira, a visibilidade durante as manobras em marcha-atrás é facilitada e segura.
Foi exactamente ao sair de um estacionamento de um supermercado, para a recarga da bateria, que tive a oportunidade de apreciar e dar um imenso valor à câmara traseira. Ao iniciar a manobra de recuo, olhando para os espelhos não vi ninguém, mas no display central, pude ver uma pessoa a pé que vinha na minha direcção. Se não tivesse este dispositivo de visão traseira, seguramente teria acontecido algo de indesejado.
As pessoas não ouvem ruído nenhum, além disso andam distraídas e os acidentes acontecem… Por este motivo, considero que ao adquirir um veículo eléctrico, seria importante instalar um sinalizador sonoro de recuo, como existe nos veículos pesados. Aliás, considero que este sinalizador deveria ser um equipamento obrigatório de série em todos os veículos, especialmente os eléctricos.
Energia e consumos
A primeira sensação ao conduzir um veículo eléctrico é estranha, mas ao mesmo tempo agradável, especialmente se testamos em ambiente citadino.
Ao iniciar uma viagem para uma outra cidade, mesmo que esteja a apenas 70 quilómetros e tenhamos uma bateria com uma capacidade que garanta uma autonomia de mais de 300 quilómetros, o primeiro pensamento é: «Será que a bateria dá para ir e voltar?».
Esta sensação de insegurança é típica para quem não está habituado a conduzir carros eléctricos fora do ambiente urbano… além do facto que, surge também um segundo pensamento: «Maior e mais pesado o carro, maior o consumo…!».
Para ajudar a aumentar a eficiência energética e a reduzir os consumos, o eVito Tourer tem à disposição 3 programas de condução: Comfort, Economy e Economy Plus. O programa Economy entra automaticamente em função a cada arranque do veículo.
O primeiro passo é ganhar confiança. O eVito Tourer, equipado com uma bateria de 90 kW (útil) tem uma autonomia bastante generosa, cerca de 360 quilómetros.
O segundo passo é saber dosear o pedal do acelerador e não exagerar, seja nos arranques, bem como na velocidade de cruzeiro.
O nosso primeiro teste foi composto por 3 troços e o percurso foi:
- 1º troço (84,8 km): Soc. Com. C. Santos do Aeroporto do Porto — Aveiro-São Bernardo. Soc. Com. C. Santos do Aeroporto do Porto; EN 107; Via Norte; VCI circular interna; Ponte da Arrabida; A1; A44; A29; A29, saída 5 direcção Ovar; EN 109; Estarreja; EN 109; Aveiro-Cacia; Aveiro-São Bernardo.
- 2º troço (89,4 km): Aveiro-São Bernardo — Aeroporto do Porto. Aveiro-São Bernardo; A17, acesso 17 São Bernardo-Oliveirinha; A17; A25; A1, acesso 16 Aveiro Norte; A20; Ponte do Freixo; VCI circular interna; Via Norte; EN 107; Aeroporto do Porto.
- 3º troço (85,9 km): Aeroporto do Porto — Aveiro-São Bernardo. Aeroporto do Porto; EN 107; Via Norte; VCI circular interna; Ponte da Arrábida; A1; A44; A29; A25; A17; A17, Saída 17 São Bernardo-Oliveirinha; Aveiro-São Bernardo.
Neste nosso primeiro teste, utilizei a modalidade “Comfort”, o sistema de regeneração em posição manual, a técnica de Eco-Driving P&G e o Cruise Control em autoestrada.
Percorremos um total de 260,1 km tendo conseguido um consumo de 22,15 kWh/100; a bateria ficou com 26% de carga, significa que gastei 64%, que corresponde a um consumo de 57,6 kWh.
Nos restantes testes, os resultados não foram muito diferentes, excepto num caso onde simulei uma situação com um pouco mais de pressão e no qual cheguei a consumos de 30-35 kWh.
Em zona urbana, com um estilo de condução preditiva, preventiva e o uso optimizado do sistema de recuperação (não o automático), consegui atingir uma média de 21 kWh/100 na modalidade Comfort — a bordo estavam 5 pessoas e malas na bagageira.
Percorrendo estradas nacionais e municipais, sempre utilizando o mesmo estilo de condução juntamente à técnica de Eco-Driving P&G, voltava a ter resultados interessantes abaixo dos 23 kWh/100.
Na autoestrada, para obter os melhores resultados mantive uma velocidade até aos 110 km/h, utilizando exclusivamente o Cruise Control em zonas planas e, esporadicamente, aplicava também a técnica de Eco-Driving P&G. Desta forma, conseguia uma média de 22,15 kWh/100, o que me permitia obter tranquilamente uma autonomia de cerca 400 quilómetros, ou seja, desta forma podia percorrer com toda a tranquilidade 300 quilómetros antes de ter que carregar novamente — isto com boas práticas de condução e boas temperaturas, porque com baixa temperatura, a autonomia baixa também.
Uma especial atenção a ter quando conduzimos um veículo eléctrico e a autonomia restante. Isto significa que é necessário fazer atenção quando chegarmos aos 40 km de autonomia. A este ponto convém encontrar rapidamente uma estação de carregamento da bateria e não chegar até ao fim, caso contrário arriscamos de ficar a pé e ter que chamar um reboque. Aqui não há jerricã para rebocar… há somente reboque!
Conclusão… com um carro eléctrico temos que planear com cuidado as deslocações, não devemos carregar demasiado no pedal do acelerador, não podemos ter pressas e nervosismos, caso contrário perdemos em autonomia e ficamos a pé.
Carregamento da bateria
Recuperação
Durante a marcha o eVito Tourer tem a capacidade de recarregar a bateria, através do inteligente sistema de gestão operacional, esta operação é denominada “recuperação”.
Isto porque nesta fase o motor eléctrico funciona como um gerador, convertendo o movimento cinético das rodas em energia eléctrica e em simultâneo trava o veículo.
O sistema de recuperação funciona em modo automático “D Auto”, pressionando uma das duas patilhas para mais de 2 segundos ou em modo manual, pressionando com pouca duração uma ou a outra patilha.
A recuperação é comandada através das patilhas que se encontram atrás do volante, a esquerda com o símbolo “–” e a direita com o símbolo “+” e acontece sempre que se levanta o pé do pedal do acelerador, excepto na posição “D +” ou se pressione o pedal do travão.
A recuperação actua como se fosse um travão, chegando a travar o veículo até uma velocidade de cerca 8 a 10 km/h, mas nunca chega a pará-lo completamente, e para o parar temos que intervir pressionando o pedal do travão.
No modo “D Auto”, acontece uma recuperação inteligente, utilizando as informações fornecidas pelo radar e pelo sistema de navegação, além das informações fornecidas por sensores, como por exemplo, às variações de inclinação da estrada, entre outras.
No modo manual existem 4 níveis de regeneração: “D – –“máxima; “D –“ normal; “D“ baixa; “D +“ nesta posição não há regeneração nem travagem, é praticamente a posição que permite utilizar a técnica de Eco-Driving P&G.
A regeneração além de permitir produzir energia e recarregar a bateria, consente também reduzir ao máximo o desgaste dos componentes do sistema de travagem.
Tipos de carregamento: AC ou CCS
No lado esquerdo do pára-choques dianteiro do eVito Tourer, encontra-se uma tampa que dá acesso às fichas de conexão, para efectuar o carregamento das baterias.
No eVito Tourer o carregamento pode ser efectuado utilizando a conexão Type 2 (AC – Alternating Current, corrente alternada com tomada de carga com 3 fases) ou a Combo 2 (CCS – Combined Charging System) a corrente contínua DC (Direct Current).
Carregamento AC, com conexão Type 2 — Não tendo nenhuma Wallbox em casa, tivemos que utilizar um dos muitos postos públicos de recarga. Por razões de praticidade escolhemos efectuar o primeiro carregamento parcial numa estação pública do Lidl, utilizando a conexão AC.
O eVito Tourer está preparado para ser carregado com corrente alternada (AC) em casa (por exemplo: a Mercedes-Benz Wallbox Home) ou em qualquer estação de carregamento pública.
Utilizando a conexão AC com corrente monofásica de até 7,4 kW, o tempo de carregamento é de cerca de 15 horas; caso se utilize uma corrente trifásica com uma potência de 11 kW, o tempo necessário para carregar a bateria de 0% a 100% é de cerca de 10 horas.
Carregamento com conexão CCS — Sempre por razões de praticidade e também disponibilidade, efectuámos o segundo carregamento, também parcial, na mesma estação pública do Lidl, mas desta vez utilizando a conexão CCS.
Ao contrário da conexão AC, a conexão CCS é muito mais rápida e o carregamento acontece com corrente contínua (DC).
O eVito Tourer está preparado, de série, utilizando a conexão CCS, para suportar uma potência máxima de carga de até 50 kW, todavia, a Mercedes-Benz disponibiliza opcionalmente o equipamento que permite suportar uma potência máxima de carga de até 110 kW.
Para carregar a bateria de 10% a 80%, utilizando uma conexão CCS com uma potência de carga de até 50 kW o tempo necessário é de cerca 80 minutos; utilizando uma de 110 kW, o tempo necessário é de 45 minutos.
Com estas duas experiências de carregamentos parciais, quisemos efectuar uma simulação de uma circunstância de emergência, incluindo também a variante da disponibilidade de conexão.
No primeiro carregamento parcial, utilizando a conexão AC carregámos 15 kWh em 1 hora e 19 minutos.
No segundo carregamento parcial, utilizando a conexão CCS carregámos 16,60 kWh em 22 minutos e 47 segundos.
Nesta imaginária situação tínhamos apenas 50 km de autonomia e o nosso destino final ficava a 60 km.
Considerando que o nosso consumo médio era de 25 kWh/100, para garantir a nossa chegada ao destino, tínhamos que carregar, pelo menos 15 kWh, o necessário para percorrer 60 km e manter sempre a nossa almofada de segurança de 50 km de autonomia.
Durante estes dois carregamentos, aproveitámos para entrar no supermercado e fazer compras. No segundo chegou perfeitamente, mas no primeiro, tivemos que ir a um café para “queimar” tempo.
Conclusão
Se o eVito Tourer for utilizado como táxi ou como shuttle é aconselhável ter instalado o equipamento que permite suportar os 110 kW de potência máxima de carga, neste caso é necessário também ter a instalação do borne, preparada para disponibilizar esta potência.
Se o carregamento parcial for efectuado aproveitando a pausa para o almoço, é possível ter à disposição quase 300 km de autonomia, isto significa que com uma carga a 100% e uma carga parcial intermédia, é possível percorrer diariamente mais de 500 km.
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